Chapeuzinho
Vermelho (Irmãos Grimm, 1802)
Era uma vez uma
menininha encantadora. Todos que batiam os olhos nela a adoravam. E, entre
todos, quem mais a amava era sua avó, que estava sempre lhe dando presentes. Certa
ocasião ganhou dela um pequeno capuz de veludo vermelho. Assentava-lhe tão bem
que a menina queria usá-lo o tempo todo, e por isso passou a ser chamada
Chapeuzinho Vermelho.
Um dia, a mãe da menina
lhe disse: “Chapeuzinho Vermelho, aqui estão alguns bolinhos e uma garrafa de
vinho. Leve-os para sua avó. Ela está doente, sentindo-se fraquinha, e estas
coisas vão revigorá-la. Trate de sair agora mesmo, antes que o sol fique quente
demais, e quando estiver na floresta olhe para frente como uma boa menina e não
se desvie do caminho. Senão, pode cair e quebrar a garrafa, e não sobrará nada
para a avó. E quando entrar, não se esqueça de dizer bom-dia e não fique
bisbilhotando pelos cantos da casa.”
“Farei tudo que está
dizendo”, Chapeuzinho Vermelho prometeu à mãe.
Sua avó morava lá no
meio da mata, a mais ou menos uma hora de caminhada da aldeia. Mal pisara na
floresta, Chapeuzinho Vermelho topou com o lobo.
Como não tinha a menor
idéia do animal malvado que ele era, não teve um pingo de medo.
“Bom dia, Chapeuzinho
Vermelho”, disse o lobo.
“Bom dia, senhor Lobo”,
ela respondeu.
“Aonde está indo tão
cedo de manhã, Chapeuzinho Vermelho?”
“À casa da vovó.”
“O que é isso debaixo do
seu avental?”
“Uns bolinhos e uma
garrafa de vinho. Assamos ontem e a vovó, que está doente e fraquinha, precisa
de alguma coisa para animá-la”, ela respondeu.
“Onde fica a casa da sua
vovó, Chapeuzinho?”
“Fica a um bom quarto de
hora de caminhada mata adentro, bem debaixo dos três carvalhos grandes. O
senhor deve saber onde é pelas aveleiras que crescem em volta”, disse
Chapeuzinho Vermelho.
O lobo pensou com seus
botões: “Esta coisinha nova e tenra vai dar um petisco e tanto! Vai ser ainda
mais suculenta que a velha. Se tu fores realmente matreiro, vais papar as
duas.”
O lobo caminhou ao lado
de Chapeuzinho Vermelho por algum tempo. Depois disse: “Chapeuzinho, notou que
há lindas flores por toda parte? Por que não pára e olha um pouco para elas?
Acho que nem ouviu como os passarinhos estão cantando lindamente. Está se
comportando como se estivesse indo para a escola, quando é tudo tão divertido
aqui no bosque.”
Chapeuzinho Vermelho
abriu bem os olhos e notou como os raios de sol dançavam nas árvores. Viu flores bonitas por todos os cantos e
pensou: “Se eu levar um buquê fresquinho, a vovó ficará radiante. Ainda é cedo,
tenho tempo de sobra para chegar lá, com certeza.”
Chapeuzinho Vermelho
deixou a trilha e correu para dentro do bosque à procura de flores. Mal colhia
uma aqui, avistava outra ainda mais bonita acolá, e ia atrás dela. Assim, foi
se embrenhando cada vez mais na mata.
O lobo correu direto
para a casa da avó de Chapeuzinho e bateu à porta.
“Quem é?”
“Chapeuzinho Vermelho.
Trouxe uns bolinhos e vinho. Abra a porta.”
“É só levantar o
ferrolho”, gritou a avó. “Estou fraca demais para sair da cama.”
O lobo levantou o
ferrolho e a porta se escancarou.
Sem dizer uma palavra,
foi direto até a cama da avó e a devorou inteirinha. Depois, vestiu as roupas
dela, enfiou sua touca na cabeça, deitou-se na cama e puxou as cortinas.
Enquanto isso
Chapeuzinho Vermelho corria de um lado para outro à cata de flores. Quando
tinha tantas nos braços que não podia carregar mais, lembrou-se de repente de
sua avó e voltou para a trilha que levava à casa dela.
Ficou surpresa ao
encontrar a porta aberta e, ao entrar na casa, teve uma sensação tão estranha
que pensou: “Puxa! Sempre me sinto tão alegre quando estou na casa da vovó, mas
hoje estou me sentindo muito aflita.”
Chapeuzinho Vermelho
gritou um olá, mas não houve resposta. Foi então até a cama e abriu as
cortinas. Lá estava sua avó, deitada, com a touca puxada para cima do rosto.
Parecia muito esquisita.
“Ó avó, que orelhas
grandes você tem!”
“É para melhor te
escutar!”
“Ó avó, que olhos
grandes você tem!”
“É para melhor te
enxergar!”
“Ó avó, que mãos grandes
você tem!”
“É para melhor te
agarrar!”
“Ó avó, que boca grande,
assustadora, você tem!”
“É para melhor te
comer!”
Assim que pronunciou
estas últimas palavras, o lobo saltou fora da cama e devorou a coitada da
Chapeuzinho Vermelho.
Saciado o seu apetite, o
lobo deitou-se de costas na cama, adormeceu e começou a roncar muito alto. Um
caçador que por acaso ia passando junto à casa pensou: “Como essa velha está
roncando alto! Melhor ir ver se há algum problema.” Entrou na casa e, ao chegar
junto à cama, percebeu que havia um lobo deitado nela.
“Finalmente te
encontrei, seu velhaco”, disse. “Faz muito tempo que ando à sua procura.”
Sacou sua espingarda e
já estava fazendo pontaria quando atinou que o lobo devia ter comido a avó e
que, assim, ele ainda poderia salvá-la. Em vez de atirar, pegou uma tesoura e
começou a abrir a barriga do lobo adormecido. Depois de algumas tesouradas,
avistou um gorro vermelho. Mais algumas, e a menina pulou fora, gritando: “Ah,
eu estava tão apavorada! Como estava escuro na barriga do lobo.”
Embora mal pudesse
respirar, a idosa vovó também conseguiu sair da barriga. Mais que depressa
Chapeuzinho Vermelho catou umas pedras grandes e encheu a barriga do lobo com
elas. Quando acordou, o lobo tentou sair correndo, mas as pedras eram tão
pesadas que suas pernas bambearam e ele caiu morto.
Chapeuzinho Vermelho,
sua avó e o caçador ficaram radiantes. O caçador esfolou o lobo e levou a pele
para casa. A avó comeu os bolinhos, tomou o vinho que a neta lhe levara, e
recuperou a saúde. Chapeuzinho Vermelho disse consigo: “Nunca se desvie do
caminho e nunca entre na mata quando sua mãe proibir.”